A Presença dos Japoneses na Região da Costa Verde

O principal marco da imigração japonesa no Brasil foi a chegada do navio Kasato Maru, em Santos, no dia 18 de junho de 1908. Assim que chegaram, estabeleceram-se em São Paulo. Somente na década de 30, a região da Costa Verde teve o privilégio de receber duas colônias nipônicas que muito contribuíram, e ainda contribuem, com o desenvolvimento da economia regional:

A “Colônia Japonesa da Ilha Grande, que marcou sua história como caiçara pesqueira e produtora de sardinha enlatada, farinha e óleo de peixe, dashicô, atualmente investe no setor de turismo.

A “Colônia Japonesa de Itaguaí”, que marca presença em três ramos da economia local: na produção agrícola em Mazomba; no setor de pesca artesanal na Ilha da Madeira e a maior parte no centro urbano (no comércio e política) da cidade.

A Colônia Japonesa da Ilha Grande

A primeira família japonesa (Nakamaschi) chegou à região da Costa Verde por volta de 1930, na praia de Bananal, na Ilha Grande, onde se estabeleceu e passou a trabalhar na pesca e na indústria da sardinha. Quando os japoneses começaram a trabalhar com a industrialização da sardinha não havia energia elétrica na ilha e, sem refrigeração, o trabalho era desenvolvido em equipe para manipular o pescado logo após o seu desembarque. Todo o processo de manipulação: limpeza, salga, cozimento e defumação, deveria ser rápido e com muita disciplina (uma forte característica da cultura japonesa), podendo acontecer a qualquer hora do dia ou da noite.


Por muitos anos os
japoneses da ilha viveram isolados na própria comunidade, comunicando-se apenas em sua língua natal. As famílias foram se estabelecendo em várias praias, como foi registrado na revista Voz do Mar”.

O maior destaque de suas produções foi o tradicional dashicô, que era preparado com a técnica artesanal de sardinha seca e defumada, muito utilizada na culinária japonesa como tempero para caldos e sopas.

Devido ao jeito discreto de ser e a dificuldade de comunicação em português, a comunidade sofreu muito preconceito durante a Segunda Guerra Mundial, sendo vigiados e denunciados por jornalistas que os acusavam, em grandes manchetes de jornais, de estarem contribuindo com o grupo do Eixo (Alemanha, Japão e Itália).

Quando a pesca entrou em declínio na região e o presídio de Dois Rios foi desativado (década de 80), o setor turísco cresceu em quase todas as praias da Ilha Grande. Os japoneses logo se adptaram à nova tendência e passaram a investir em boas pousadas à beira-mar.


A presença dos japoneses em Itaguaí

Em 1939 imigrantes japoneses chegam a Itaguaí que atualmente constitui a maior colônia nipônica do estado do Rio de Janeiro.

A princípio se estabeleceram em Piranema, depois, migraram para região do Vale do Mazomba, onde passaram a contribuir para o desenvolvimento agrícola do município. Trabalhadores incansáveis e inteligentes, com grande conhecimento no cultivo da terra, os japoneses elevam Mazomba ao título de maior produtor de milho, quiabo, goiaba, laranja do Brasil, além de maior exportador de banana da América Latina. Com uma riqueza simbólica peculiar, e fora da sua terra natal, os imigrantes enfrentam por aqui o complexo desafio de deixar sua história registrada e, ao mesmo tempo, reproduzir a estrutura social e de lazer de seus ascendentes. Ainda hoje, espalhados por todo o município, nikkeis (descendentes) tentam preservar vestígios da história e manter viva a cultura de seus ancestrais.

Os japoneses ajudaram a mudar a história do município de Itaguaí

 Destacamos a importância da presença dos imigrantes japoneses em Itaguaí.

Em Seropédica, Shinichi Ogawa foi pioneiro no cultivo de seis espécies de goiaba “de mesa” (própria para o consumo in natura) cinco espécies vermelhas e uma branca, algumas dessas frutas chegavam a pesar de 400 a 500g.

O distrito de Piranema, através do esforço de Toshiharu Kunizawa com o plantio de quiabo, entrou para a história agrícola do Brasil.

O distrito de Mazomba, berço da imigração japonesa no estado do Rio, tornou-se um refúgio seguro para as famílias que lá se fixaram, fugindo da II Guerra Mundial. A presença dos Okazaki foi fundamental para o assentamento das famílias que iam chegando e para a organização de mutirões para construção de novas habitações. A partir daí, iniciaram-se imensas plantações de tomate.

Na Ilha da Madeira, família HIROSHI OKASAKI se destaca na pesca artesanal;

Em 1952 a colônia japonesa de Itaguaí ganhou destaque nos jornais com a reportagem intitulada: “O REI DO TOMATE”, destacando a grande produção em Chaperó.

Yassuichi Inoue e a construção icônica do cinema em Itaguaí

 

Prédio dos Inoue, Centro de Itaguaí, Acervo Keiko Inoue Taguthi

Yassuichi reconhecia a necessidade do lazer para a saúde mental e assim, entretinha os japoneses com apresentações de marionetes num barracão. Depois, passaram a assistir filmes, com intérprete para todas as vozes japonesas, em uma grande tenda de circo. Na década de 1960 apresentaram-se ali artistas como Emilinha Borba, Roberto Carlos, Wanderléia, Erasmo Carlos, dentre outros.  

Ao inaugurar um cinema no Centro de Itaguaí, Yassuichi promovia sessões exclusivas para os japoneses uma vez por mês. Construiu o primeiro prédio de três andares de Itaguaí e o primeiro cinema de propriedade de um japonês no estado do Rio de Janeiro, graças a sua experiência com cinema, adquirida durante sua estada em Bauru, no estado de São Paulo.

Sentados: Sami Inoue, Joaquim Inoue, Yaeko Inoue, Tuyuko Inoue, Shinko Inoue, Tadanobu Inoue e Shiki Inoue com Fernando Inoue no colo, em pé: Saeko Inoue, Yasuichi Inoue e seu filho mais velho Takaji Inoue (marido e Shiki Inoue). Acervo Mariléia Inoue.

A família morava no prédio planejado e construído por Yassuichi, com arquitetura semelhante a que os japoneses construíram em São Paulo.

 

Yassuichi e Sami Inoue já idosos

Acervo Maysa Francisco de Almeida

BUNKA: Clube Cultural JAPONÊS de Itaguaí, reunindo várias colônias japonesas do estado do Rio de Janeiro

O primeiro terreno para o Bunka (cultura) foi doado por Yassuichi Inoue. No ano de 1952 foi construída a sede social (kaikan). Em 19 de outubro com a presença do primeiro embaixador  Shin Kimizuka aconteceu a solene inauguração.

Lutadores de Sumotori com traje mawasari, no primeiro Bunka.

Acervo Horácio Watanabe.

 

A religiosidade, elemento vital para a cultura japonesa

Vindo de São Paulo para oficiar rituais em templos de Itaguaí e na região da Serra Fluminense, Massanobu Hatakeyama, um monge budista omotokai, se estabelece em Seropédica, dividindo seu tempo entre as atividades agrícolas e religiosas.

Em Piranema, atualmente, existem dois templos budistas, com linhas distintas, distantes 100 metros um do outro: o Hodoshinshu e o Butsuriyko.

Japoneses no cotidiano de Itaguaí

Na década de 1960, moças e rapazes foram tomando lugar na sociedade. Entre eles, Fusao Fukamati, que deixa as atividades típicas dos japoneses na região e inicia sua vida como político em Itaguaí

Fusao Fukamati, político itaguaiense, filho de um dos mais antigos moradores de Itaguaí.

Entender o passado para ressignificar o presente e construir o futuro

Assim, a partir do final da década de 1930, com a política de atração de imigrantes, os japoneses marcaram presença na formação de Itaguaí e expandiram suas atividades pelo município com sua enorme capacidade de trabalho, inovação e empreendimento, não somente na agricultura, mas também na cultura e na culinária. Atualmente, nomes de bairros, de ruas e de outros locais relembram e homenageiam a participação dos japoneses e seus descendentes no desenvolvimento da região. Nas feições, muitos habitantes do município mostram a presença japonesa no mosaico étnico Itaguaiense.

Em novos tempos, vemos descendentes de japoneses se voltarem para suas raízes e procurar o seu lugar na história da cidade de Itaguaí. Agradecemos às famílias japonesas que ajudaram a construir a cidade que Itaguaí é  hoje. “Um povo sem o conhecimento da sua história, origem e cultura é como uma árvore sem raízes“  Marcus Garvey (1887–1940). Voltemos então à história, origem e cultura!

 

 

A presença marcante em Mazomba

Impulsionados pela esperança de realizar o sonho que os trouxera ao Brasil, os japoneses marcaram presença em Mazomba, contribuindo de forma decisiva para o desenvolvimento da agricultura deixando, assim, suas marcas na história de Itaguaí. Mazomba entra para a história da imigração no estado do Rio de Janeiro por se tornar um refúgio para as famílias de imigrantes japoneses que para lá se destinaram criando seu núcleo colonial.

Atualmente, as famílias que residem em Mazomba:

Família Morita

O patriarca Yoshio Morita veio para São Paulo no ano de 1930, depois vem para o Rio de Janeiro, primeiro para Nilópolis e depois para Mazomba no ano de 1955. Comprou um sítio na Estrada da Colônia onde cultivava tomate, goiaba e quiabo. A família frequentava o Bunka clube, os filhos participavam das aulas de japonês no Bunka. Atualmente o filho Hazime Morita reside e cuida do sítio em Mazomba.

Família Issobe

Tsunehar Issobe, casado com a Yoschie Issobe, teve cinco filhos. Veio para o Brasil em 1933 para a lavoura de café em São Paulo. Em 1945 a família foi para Mazomba, adquirindo um sítio na Estrada das Palmeiras, onde cultivava tomate. Algum tempo depois adquiriu o sítio ao lado, aumentando sua produção agrícola. Em 1971 sua filha mais velha casa-se com Yasuji Iwanaga. O patriarca presenteia o filho Masahar Isobe com uma terceira propriedade como herança antecipada, também em Mazomba. Um outro filho, Takeshi Issobe, também recebe do pai um sítio, onde ainda reside até os dias atuais, cultivando aipim. Com o falecimento do Masahar Isobe, quem assumiu o sítio foi sua filha Adriana Akemi Isobe, que reside e administra o sítio atualmente.

Familia Iwanaga

Yasuji Iwanaga veio com 19 anos para o Brasil (primeiro para o Paraná, depois São Paulo e por fim para Seropédica, onde já viviam membros de sua família. Casa-se com a filha mais velha do Tsunehar Issobe em 1971 e vão residir em Santa Alice – Seropédica (depois de uma breve ida à São Paulo) e por fim, fixam residência em Mazomba, no sítio do pai da esposa, que foi morar em uma nova propriedade. Tiveram três filhos que ainda hoje mantêm as atividades agrícolas.

Família Matsunaga

Patriarca Takeo Matsunaga, nasceu no Japão em 1913, veio para o Brasil aos nove anos de idade com a mãe, no início de 1940. Chegaram a São Paulo onde foram trabalhar na lavoura de café. Depois de alguns anos vieram para a Baixada Fluminense e, em 1947, para Mazomba, primeiro como empregados, depois adquiram sua própria propriedade. O patriarca casa-se com Hisako Matsunaga já morando em Mazomba. Tiveram quatro filhos. Cultivaram tomate (grande produtor de tomates na década de 1950), pimentão, banana nanica e carvão. Faleceu no ano de 1968, e o seu filho mais velho, Carlos Satoro Matsunaga, então com 18 anos, assume a responsabilidade da família. Satoro diversificou os investimentos e começou a adquirir outros imóveis, comprando as propriedades das famílias Kajishima e Tanaka, onde passou a residir e cultivar goiabas. Hoje em dia, reside no sítio comprado pelo patriarca, seu o filho Oswaldo Matsunaga, que administra o sítio e continua com as atividades agrícolas da família.

O lazer da família e de todos os outros imigrantes japoneses, era participar de reuniões no Bunka, e jogar Yakiu. As mulheres frequentavam o curso de corte e costura no Itaguaí Atlético Clube, e iam de bicicleta para a escola que ficava no centro do município.

Família Honda

Patriarca Katsuo Honda veio para o Brasil em 1939, para Nilópolis, para trabalhar na lavoura de laranja. Chega em Mazomba em 1945, onde adquire dois sítios: um na Estrada do Mazomba e outro na Estrada da Colônia. Com o passar dos anos, o patriarca vende sua propriedade da estrada do Mazomba e seu filho Masahiko Honda compra outro sítio na Estrada da Colônia onde reside até os dias atuais. A família Honda foi a pioneira no cultivo da goiaba, cuja mudas vieram da fazenda Funshyau, que ficava em Cachoeiras de Macacu.

Família Watanabe

Patriarca Hajime Watanabe veio para o Brasil em 1934, para o estado do Pará (Cidade de Tomeasú), trazendo seu filho Ichiki Watanabe com nove anos de idade. Fugindo da malária que assolava o estado do Pará, a família foi para o estado de São Paulo trabalhar na agricultura de café e, em 1949 vieram para o Rio de Janeiro (Santa Cruz). Ichiki trabalhou com o pai até se casar. Após o casamento compra um sítio em Itaguaí (Rua do Tronco) onde passa a cultivar tomate e banana. Em 1959 adquire um sitio em Mazomba, onde cultivava tomate. Hoje em dia, o sítio de Mazomba é administrado pelo seu filho Lhoso Watanabe. A família Watanabe, também foi pioneira no cultivo de goiaba em Mazomba.

Família Kajishima

Em 1961, o Sr. Shinzo Kajishima, com três filhos, veio direto do Japão para Itaguaí, onde já residiam membros de sua família, que vieram antes da Segunda Guerra. Sr. Shinzo veio para Mazomba onde comprou o sítio que pertencia a família Toyama, e onde reside até os dias atuais. Cultivava tomate, pepino, jiló (olericultura). O filho Tatsushi formou-se em Geologia pela UFRRJ e passou a cuidar da família em 1981. Ele aumentou a propriedade adquirindo a metade do sítio da Sr. Noboyuki Kajishima, a outra metade do sitio foi comprada pelo Sr. Satoro Matsunaga.

Família Shiose

Patriarca Kyoto Shiose, veio para o Brasil em 1933 com o filho de cinco anos de idade Joaquim Shozu Shiose. Morou no Sul, São Paulo, Pernambuco e por fim Mazomba. Comprou um sítio na Estrada das Palmeiras e depois um outro sítio na divisa de Mazomba com Santa Cândida. Cultivava tomate. Perdeu grande parte dos bens devido a grande enchente da década de 1960. Trabalhou com a olericultura e criação de gados.

Família Yahagi

 

Sr. Yoshio Yahagi, veio para o Brasil em 1958, direto do Japão para Mazomba, onde possuía família. Recebeu um sítio de herança do tio. Adquiriu propriedades em Macaé e Magé, onde trabalhava com agricultura e gado, porém continuava morando em Mazomba, onde possuía dois sítios (um na Estrada da Colônia e outro na Estrada das Palmeiras). Casou-se em 1967 com uma alemã que morava em Piranema. Cultivava hortaliças e goiaba, sendo o maior produtor de goiaba de Mazomba. Ganhou vários prêmios de qualidade da goiaba. Diversificou seus investimentos, tendo sido proprietário de quitanda e açougue.

Também residem em Mazomba as famílias Kojima e Tsuda

A presença dos imigrantes e dos nikkeis (descendentes dos imigrantes japoneses) é grande na vida social e econômica do município, tanto na zona rural, como nos centros urbanos. A Câmara Municipal de Itaguaí, reconhecendo a importância da colonização japonesa na história dessa localidade, criou em 2021, o Dia da Festa da Imigração Japonesa. Um evento que acontece nos primeiros dias do mês de junho, já que o dia 1º de junho de 1939, ficou registrado como o dia da chegada dos primeiros japoneses no território itaguaiense.