Povos Indígenas na Região da Costa Verde

No início da colonização do Brasil, todo o litoral da Costa Verde era habitado pelos indígenas tupinambás. Este povo vivia em uma sociedade comunitária, onde as matas, as terras, os rios, a comida e a moradia eram propriedades coletivas. Na divisão do trabalho, os homens faziam a queimada, limpavam o terreno para a roça, construíam ocas, canoas e armas, caçavam, pescavam e guerreavam juntos; as mulheres cultivavam a roça, cozinhavam, faziam objetos úteis à comunidade e cuidavam dos curumins (crianças).

O povo tupinambá dominava a arte de construir e tocar instrumentos musicais. A música e a dança estavam presentes em todos os seus rituais, principalmente durante os rituais de antropofagia.

Para resistir à exploração, à catequese forçada, à perda de seus territórios sagrados e à opressão dos colonizadores, os tupinambás organizaram uma grande aliança com outros povos indígenas (inimigos dos portugueses), que ficou conhecida como a “Confederação dos Tamoios”. Em 1555, a confederação passou a contar com o apoio dos franceses que buscavam minar o domínio português no Brasil. A luta de resistência teve como primeiro grande líder, o cacique tupinambá Cunhambebe, chefe das aldeias de Angra dos Reis (que nesse período, incluía as terras de Itaguaí e Mangaratiba). Os portugueses, por sua vez, aliaram-se aos tupiniquins, temiminós, guaianases e outras tribos inimigas dos tamoios

O povo tupinambá lutou bravamente contra a escravidão de seu povo e contra a invasão de suas terras. Entretanto, em 1567, aconteceu o maior embate dessa guerra, quando os portugueses, liderados por Estácio de Sá, com grande esforço e uso de armas pesadas, derrotaram a Confederação dos Tamoios

Aldeamento Tupiniquim em Mangaratiba e Guarani em Itaguaí

Por volta de 1620, Martins Correia de Sá, governador da capitania do Rio de Janeiro, com objetivo de garantir a ocupação da terra contra as investidas de remanescentes tamoios e para fiscalizar a pirataria, que marcava forte presença na região, fundou um aldeamento sob à invocação de São Brás na Ingaíba, com indígenas da nação Tupiniquim, trazidos de Porto Seguro. Mais tarde, fez a transferência desse aldeamento para o local onde hoje está a sede administrativa de Mangaratiba, fundando ali uma nova aldeia, sob a tutela de Nossa Senhora da Guia. 

           De 1622 a 1628, os jesuítas trouxeram da Lagoa dos Patos (RS) 450 indígenas da nação Guarani já catequisados, que eram denominados como carijós. Assim que chegaram, Martim Correia de Sá entregou os aldeados aos cuidados dos padres jesuítas da Fazenda de Santa Cruz, formando a Aldeia de São Francisco Xavier de Itaguaí. O aldeamento ficou um bom tempo estabelecido na Ilha de Jaguanum. Segundo o historiador angrense, Honório Lima, os guaranis temiam as onças que abundavam na região e se recusavam a morar no continente, afirmando que na ilha não havia jaguar (onça). Assim foi criado o termo que por muitos anos denominou a ilha: “Jaguanoom” “Jaguar não”.  Então, Martim Correia de Sá convenceu os indígenas a se transferirem para a Ilha de Itacuruçá, onde permaneceram por muitos anos. Em 1688, foi inaugurada a “Capela de Itinga, ” em Coroa Grande, na região de Itinga, que ficava entre o “rio Itinga-açu” (Itinguçu) e o rio “Itinga-mirim” (Itimirim). 

Entrelaçamento entre a Aldeia de Mangaratiba e de Itaguaí

A Aldeia de Nossa Senhora da Guia de Mangaratiba, por muitos anos, era um arraial tupiniquim, formado por um conjunto de palhoças de pau a pique e sapé, com uma capela ao centro. O arraial sempre contou com a presença de poucos moradores, contabilizando em 1691, a presença de apenas 20 casais de indígenas. Por mais de um século, a vida na aldeia seguia sua rotina normal com os aldeados sobrevivendo à base de pequenos roçados de mandioca, milho, feijão e demais verduras e leguminosas, para consumo próprio. Também pescavam peixes e mariscos na rica baía e caçavam nas matas da região para se alimentar, nada produzindo em suas terras para exportação. A principal finalidade dos aldeamentos, nesse período histórico, era de ocupação para manter a posse da terra. 

Apesar de possuir uma capela no centro do arraial, a aldeia de Mangaratiba ficou um bom tempo sem padres, passando assim, em 1688, a ficar agregada à “Capela de Itinga” em Itacuruçá. Segundo Pizarro, tal fato fez com que muitos aldeados mudassem seus domicílios para um sítio mais próximo a essa capela. Esse entrelaçamento, no atendimento religioso entre as duas aldeias ocorreu até a data em que a Aldeia de São Francisco Xavier foi transferida para o “Morro Cabeça Seca”, fundando Itaguaí, por volta de 1718 a 1729. 

 Em 16 de janeiro de 1764, a capela de Nossa Senhora da Guia de Mangaratiba foi elevada à paróquia. Essa medida passou a incentivar a presença de brancos na aldeia. 

Transformações na Aldeia de Itaguaí

Com a expulsão dos jesuítas, a Aldeia de São Francisco Xavier de Itaguaí foi gradativamente ficando abandonada. Vários indígenas não suportaram os maus-tratos dos administradores da fazenda Santa Cruz e voltaram a viver nas matas. O primeiro Capitão-Mor da aldeia, Damásio Rodrigues, não teve condição de impedir essa desestruturação. Pouco tempo depois, os indígenas fugitivos retornaram para suas terras. 

           José Pires Tavares foi nomeado para desempenhar o cargo de Capitão-Mor da Aldeia de São Francisco Xavier e tudo estava tranquilo até o ano de 1784, quando o novo administrador da fazenda de Santa Cruz, Manoel Joaquim da Silva Castro, passou a lutar pelo fim da aldeia, criando falsas denúncia contra os aldeados e situação de pânico no arraial.

José Pires Tavares embarcou para Portugal para suplicar à Rainha D. Maria I, por sua aldeia.

Enquanto o Capitão-Mor de Itaguaí ainda se encontrava em Portugal, lutando por sua aldeia, os aldeados foram expulsos de sua terra, durante a noite, embarcados à força em canoas e despejados na praia de Mangaratiba. 

Nesse período (1785 a1795), a igreja de Nossa Senhora da Guia estava em processo de ampliação, com os indígenas sendo obrigados a trabalhar na obra. Assustados com o acontecido em Itaguaí e alertados pelos recém-chegados sobre o risco de também perderem suas casas para os brancos, os aldeados de Mangaratiba começaram uma rebelião contra permanência de brancos na aldeia, derrubando as casas construídas de pedra e cal.

Enquanto os aldeados de Itaguaí lutavam para retornar para sua aldeia, um grande engenho de açúcar foi estabelecido em suas terras, sendo considerado o mais moderno da colônia, começou a operar em 1794 com mão de obra de 200 escravizados, dificultando ainda mais o retorno dos indígenas. 

Por ordem da rainha, o Conde de Resende mandou demarcar as terras da aldeia de Itaguaí e os indígenas puderam retornar para suas terras, porém, com uma área reduzida para suas produções e sem garantia documental de propriedade. 

Em 1812 Dom João VI concedeu aos indígenas terras na Fazenda de Santa Cruz.

Em 5 de julho de 1818, foi criada a Vila de Itaguaí nas terras da aldeia. Alguns índios mudaram para uma nova aldeia e outros permaneceram nas terras da antiga Aldeia de Itaguaí, no morro denominado “Cabeça Seca” por falta de água potável. 

Em 1823, Maria Graham visita Itaguaí e registrou em palavras e com uma linda ilustração, a presença dos remanescentes indígenas que ainda viviam na localidade da antiga aldeia de São Francisco Xavier.

           Em Mangaratiba, a ampliação da freguesia, em 1º de fevereiro de 1802, foi outro fator que fez aumentar os conflitos entre brancos e aldeados. A paróquia passou a administrar todas as terras compreendidas entre a ponta de Itacurubitiba até o rio Itinguçu incluindo as ilhas de Itacuruçá, de Jaguanum, Guaíba, Madeira, Martins e Marambaia. 

                Apesar de não serem mais reconhecidos como aldeados, os indígenas de Mangaratiba e de Itaguaí foram convocados, sob a coordenação de um Capitão-Mor, para o alistamento nas “Guerras da Independência”, em 1825.  

 

POVOS INDÍGENAS, HOJE, NA REGIÃO DA COSTA VERDE

Atualmente, existem cinco aldeias indígenas estabelecidas na região da Costa Verde, sendo quatro do povo Guarani e uma Pataxó. São elas:

  • Aldeia Tekoa Araponga dos Guarani Mbyá do Patrimônio, estabelecida no sopé do Morro da Forquilha, dentro do Parque Nacional da Serra da Bocaina, em Paraty, numa área de 223 hectares. A aldeia é reconhecida pela FUNAI.
  • Aldeia Tekoa Sapukai Bracuí dos Guarani Mbyá, em Angra dos Reis. Localizada no Bracuí, com, aproximadamente 2.200 hectares. Esta aldeia é reconhecida pela FUNAI e, oficialmente registrado como a maior aldeia do Estado do Rio de Janeiro; 
  • Aldeia Tekoa Itaxin dos Guarani Mbyá de Paraty-Mirim, com 79 hectares, está estabelecida dentro da APA CAIRUÇU, em Paraty. a aldeia é reconhecida pela FUNAI; 
  • Aldeia Arandu Mirim, no Saco do Mamanguá, em Paraty, onde vivem cerca de 60 indígenas, dentro da área de Proteção Ambiental do Cairuçu. Em processo de demarcação.
  • Aldeia Tekoha Jevy, conhecida também como Aldeia Guarani do Rio Pequeno, localizada no município de Paraty-RJ, onde vive uma população de cerca 32 indígenas da família Ñandeva e Guarani Mbyá, em área delimitada;
  • Aldeia Pataxó Hã Hã Hãe – um grupo de 62 indígenas pataxós, que migraram da Bahia (em 2016), vivem na localidade de Iriri, distrito de Tarituba, distante 30 Km da sede do município, no Km 548 da Rodovia Rio –Santos (BR – 101), aguardando demarcação de seu território. 

       A maioria das atuais aldeias da Costa Verde migrou do Sul do país, durante o segundo meado do século XX. Sendo que a maior concentração está em Angra dos Reis, com 704 habitantes e o restante em Paraty, onde vivem um total de 518 indígenas. 

     Vale ressaltar que em Mangaratiba e Itaguaí, cidades da Costa Verde que foram fundadas por aldeamentos indígenas, atualmente não possuem nenhuma aldeia em seus territórios.